10 de nov. de 2013

DO DIREITO DE DIZER NÃO

Aluno da graduação da Filosofia UFSC
Os Santiagos do mundo inteiro estão inquietos. Uma inquietude que não quer ser mais quieta, embora eles estejam sufocados pela Vida, pelo mundo e pelo desconhecimento de si próprios! Mas, eles têm boas razões para tanto. Todos se unem num momento de excesso irrefreado de furor. Furor necessário e deveras urgente. Urgência salvífica? Será? Vamos ouvir o clamor deles:
Já são 23h30. Estamos sem sono e sem vontade... ora, vontade, não entendemos mais essa palavra. Podemos afirmar categoricamente que já não vivemos há muito tempo.  Porque viver pelos outros é uma forma de morrer aos poucos, a cada madrugada de insônia, a cada sorriso forçado, a cada olhar interrompido, a cada beijo recusado! Somos mortos-vivos! Essa é a nossa verdade: solidão!
Sentimo-nos roubados, extorquidos, dilacerados pela Vida. Por que devemos escolher a Vida mesmo quando ela não nos quer? A Morte às vezes pode nos soar tão bem! Parece ser uma consequência lógica dessa Vida lúgubre e estéril. A Morte não é o oposto da Vida, mas sim, sua conclusão. O oposto à Vida é quando esta não nos dá o ar de sua graça. Precisamos ir além de viver biologicamente, precisamos viver felizes... Uns perguntam: Vida sem felicidade? Outros tergiversam: Felicidade sem vida? Nesse lastimável paradoxo em que nos encontramos esses mesmos outros dizem que se entregar é uma bobagem, uma covardia. Será mesmo? Podemos duvidar muito enfaticamente! Nossa memória pode ser uma casa mal-assombrada onde encontramos velhos fantasmas. As vozes nunca foram embora, sempre conviveram conosco, mas podemos não ter mais forças para silenciá-las! Muita coisa nós guardamos somente para nós mesmos no desejo de não sermos inconvenientes com os nossos amigos.
Violência é o desespero pelo medo da Morte, uma fugaz satisfação, uma evanescente distração para esse Tempo lerdo. Por isso o gosto de dormir, pelo menos os nossos sonhos podem ser mais alegres a ponto de desviar nossos pensamentos, durante o dia, da vilania diária.
Sobreviver, esta é a mais terrível maldição. Tornou-se algo politicamente correto, algo suficiente. Que repugnância nojenta. Nosso coração bate descompassivo, angustiado. Nosso olhar está hipnotizado pela mesmice, pelo trivial. Não saberíamos dizer até onde isso nos deixa cegos. Uma cegueira desordenada. E nessa desordem toda fechamos nossos olhos e, como se flutuássemos, nossos corações param, e um mal-estar existencial sai da gaveta profunda de nosso coração e toma com força a direção da nossa vida, ou do que restou dela.
O que há de errado com o nosso coração? Por que o nosso coração subjaz tão rapidamente? Outros poderiam perguntar. Ledo engano. Lá se vão muitos anos em nossa história de luta, de duplipensamentos, de resistências heroicas, mas tudo chega ao seu fim, porque as forças um dia cessam. Não obstante, num último respiro condescendente para conosco mesmos, vemos alguém balançar a Verdade Absoluta à nossa frente. Que irresistível! Ele nos diz que a Verdade liberta. Mas do que nós poderíamos estar presos? Só pode ser da Vida, desta vida e não de outra. Por que existe esta vida e não outra? Mas se nós não nos adaptamos facilmente a essa vida, nos libertar dela parece ser algo tentador. Então nós podemos dizer ao anunciador que pode nos dizer qual é a Verdade.
O anunciador continua dizendo que a Verdade liberta mediante o seu conhecimento. Libertar do quê, novamente? Do mundo? Claro, só pode ser desse mundo, para ganhar outro que não sabemos qual é. Para os nossos corações sofridos e desejosos de alguma felicidade, apesar da suspenção de nosso juízo, se alegram com essa bandeira anunciada e cai no perigoso poderio psicológico manipulador da Verdade Absoluta. Alguém que conhece a Verdade está salvo e pode se sentir num estado melhor que os outros e, por isso nos chamar de perdidos.
Tomemos cuidado, pois esta Verdade se faz ser obedecida mediante uma autoridade. Autoridade que requer uma fé. Não temos nada contra a fé, desde que ela seja genuína da parte das pessoas e, emergida de suas reflexões. E o que acontece com aqueles que não têm essa fé e não legitimam essa autoridade? Serão vistos no mínimo, mais uma vez, como perdidos, ou em outros casos como potenciais inimigos ─ hereges?!
Mas, o que os anunciadores querem mesmo é mais adeptos para a Verdade anunciada. Para isso eles se valem, querendo ou não, sabendo ou não, de psicologia de rebanho para aumentar o número de seus contribuintes.
O que podemos aprender com tudo isso é que temos que nos precaver sobre qual autoridade vamos dar outorga em nossa vida. E a qual conhecimento nós vamos nos dedicar, pois este é um Tempo lerdo que retarda a consumação plena da nossa vida. É preciso ter aquela clareza de raciocínio, que nos conclama a sermos nós mesmos. E podemos dizer que esta é a nossa maior verdade que podemos alcançar e o poder é nosso para dirigir as nossas próprias vidas. Abaixo a ditadura do pensamento único!
Nesse momento em que nos reencontramos conosco mesmos, podemos assumir o lado trágico da Vida e dizer que vamos cuidar das nossas existências chorando, sofrendo, solitários, e também alegres, impulsivos, exagerados, mas agora, sem ódio à Vida, exercendo o maior presente que ela poderia ter nos dado: nós mesmos e um mundo onde podemos, mais uma vez, ser nós mesmos.
Muitos de nós nascemos póstumos, por isso devemos morrer para que tudo se encaixe novamente. Aos nossos amigos que sempre esperaram por nós dizemos: adeus. Às gerações futuras dizemos: enfim chegamos. Aos poderes opressores falsamente instituídos de todos os tempos, temos o direito de dizer: NÃO!
Não tentem me roubar de mim mesmo com essas suas Ditaduras da Verdade, NÃO... NÃO! Pois sinceramente sou um herege dos dogmas alheios! Escutaram bem, dos dogmas alheios. Mas, não do dogma que sempre se revela do fundo do meu coração: o amor... esse eu posso dar para ti, ─ só se quiseres, pois não imponho nada a ninguém, nem poderia ─, só me basta a mentira de seu sorriso antipático, o desvio de seu olhar lânguido, e a fugacidade de seu beijo fugidio. E se você me disser que me ama de verdade, eu lhe direi do fundo do meu coração: NÃO!... não quero mais saber de nenhuma verdade! Quero apenas continuar vivendo na mentira da minha solidão.



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